Guerra declarada contra mim mesma

Entro em 2020 sem um sentimento muito grande de esperança e empolgação. Enquanto todos ao meu redor comemoram a meia-noite de 01/01/2020, eu sentia um nó se formar em minha garganta. Não sei bem o motivo, mas tudo que eu quero é fugir e me esconder no banheiro. Respiro fundo, lembro da voz da minha psicóloga me ensinando a identificar pensamentos reais dos distorcidos. Isso só pode ser um dos distorcidos, certo?

Sei lá. É isso, a verdade é que não sei, e é por isso que continuo na terapia, não é? Se eu soubesse me cuidar não estaria pensando nada disso. É isso, estou espiralando. Esses fogos sempre foram tão altos? Olho para o lado e vejo uma cara amarrada: preocupação com a reação dos animais e pessoas sensíveis aos fogos. Eu nunca fui uma pessoa sensível aos fogos, então por qual motivo quero me esconder debaixo da mesa? Parece que o céu vai cair na minha cabeça. Respiro fundo e lembro outra vez da minha psicóloga. Outra vez penso que não sou obrigada a saber lidar com isso, pois se soubesse, já teria levado alta da terapia. Me sinto incapaz. 2020 parece assustador, como se fosse um risco iminente à minha existência. Não fiz metas, não fiz planos, tudo parecia muito resolvido até a contagem regressiva começar.

Essa temporada de festas foi especialmente difícil. Parecia a última. Será um presságio dizendo que o mundo vai acabar? A angústia me sobe até a garganta e eu luto contra as lágrimas, soluços e catarro que querem me incomodar de madrugada. Lembro da criança que eu era, chorando na madrugada por medo dos pais saírem para o trabalho no dia seguinte e não voltarem. Respiro fundo, é tudo tão confuso. Eu só quero que pare.

Sinto que me perdi em 2019; parei de escrever, perdi alguém querido, vivi todas as 8760 horas do ano, sem 1 segundo para descansar. Onde cheguei? Exatamente aqui, na contagem regressiva que parece nunca terminar. Ah não, já gritaram “Feliz ano novo!”? Pareço ainda presa no penúltimo segundo do ano. Não vai acabar, algo vai acontecer. Quero chorar.

Me descolo da realidade e a vontade de chorar some. O desespero desembola o nó na minha garganta conforme vai embora. Tem uma câmera apontada para mim. Sorrio. Não sei bem o que aconteceu depois daí. Me sinto vazia.

A verdade é que tudo isso é apenas uma enxurrada de palavras que eu finalmente, 9 dias depois, consegui colocar para fora.

Em 2019 eu me perdi de verdade. Nunca antes eu senti dificuldade para me expressar com palavras escritas, no entanto, não lembro a última vez (antes de hoje) que sentei e escrevi o que sentia. Não sei se peço socorro agora ou se finalmente estou salva.

Acho que é por isso que estou aqui, para descobrir. O que importa, no momento, é que voltei a escrever. Me sinto mais leve, feliz e realizada. O cansaço que eu sentia, parece ter sumido. Sei que amanhã vou me arrepender de ter ido dormir tão tarde, mas, por ora, este é o melhor momento do meu ano. Quero que ele se multiplique.

Esse ano, para compensar por 2019 (que eu apelidei, na minha cabeça, de “O ano perdido”), declarei uma guerra à mim mesma e vou correr atrás de todos os meus objetivos. Todos mesmo. Desde os mais realizáveis até os mais impossíveis. Eu não ligo. Esse ano, quero me tocar novamente na realidade e voltar a sentir por fora da barreira que surgiu ao meu redor de forma quase imperceptível, como uma nova camada da minha pele. Duvido muito que 2020 seja o meu ano, mas isso não vai me impedir de tentar e de sentir a frustração e a tristeza. Porém, prometo que farei de tudo para que elas não cortem a minha ligação com a alegria, diversão e criatividade.

Quero voltar a ser eu. E acho que o primeiro passo, é esse, o que já tomei; em 2020 ano eu volto a escrever; e vai ser incrível.

A ilustração não é minha, mas não consegui encontrar o dono.

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