Sobre respirar em paz debaixo do céu

Recentemente, completei 1 ano sem conseguir parar de pensar na pandemia.

Minhas costas doem e meus olhos não aguentam mais passar o dia encarando telas. Os 26 m² que divido com as vozes da minha cabeça parecem englobar o mundo inteiro; enquanto parecem também não ser nem perto do suficiente para existir. Me pego encarando o céu através da janela e pensando no quanto o subestimei quando podia passar dias e dias andando diretamente abaixo dele. No quanto sinto falta até de ter a pele queimada pelo sol de meio dia enquanto tentava chegar o mais rápido possível ao ponto de ônibus com sombra.

Tentei trazê-lo para dentro de casa. Comprei algumas plantas que apelidei de Sandra, Luciene, Marlene, Darlene e Marilene; nomes ironicamente divertidos para seres cujo objetivo era puxar o sol e o céu aqui para dentro. Sinto falta da coceira de andar pelo mato alto de bermuda. De sentar no chão e só depois perceber que foi exatamente na faixa de terra sem grama e que minha bermuda estava suja. Sinto falta de escorregar no lodo da pedra de uma cachoeira e dos leves beliscões de peixes quando entro na água.

O céu sempre foi algo que se manteve constante na minha vida. Não importa onde eu more — e já morei em alguns lugares diferentes — , ele estava sempre lá. Agora, o admiro de longe e com a saudade que sempre senti de todas as coisas que precisei deixar para trás. Sinto que fiquei lá no dia 17 de março de 2020 junto com o céu. A última vez que o vi em liberdade, haviam nuvens e ele me entregou um vento delicioso. Eu esperava duas semanas trabalhando de casa, talvez, no máximo, um mês. Tentei esquecer o chefe dizendo que aquilo duraria, pelo menos, até agosto.

Não preciso dizer que me enganei.

Passei um ano inteiro sem conseguir admirar o céu. Sem conseguir respirar fundo no meio do mato ou sugar todo o ar possível antes de mergulhar em uma cachoeira. Sinto falta. Sinto que fiquei presa naquele dia. Passo os dias lembrando das sensações, das últimas vezes que me senti livre para estar debaixo do céu. É como viver do passado.

Sempre fui caseira, mas sempre amei olhar para o céu. Procurar estrelas e constelações. Sinto falta. Ultimamente,  sinto falta. Não consigo aproveitar as pequenas notícias boas que passam por mim ou parar de pensar em tudo que estou perdendo — além do que já tinha perdido antes.

Queria 1 dia sem estar presa para admirar o céu, sentir o mato alto, a terra molhada e o vento; sem achar que tudo isso pode me matar.

Eu estava acostumada a estar presa na minha cabeça, cheia de inseguranças, incertezas e do meu próprio caos interior. Mas sinto falta — muita falta — de estar livre para andar debaixo do céu e respirar fundo, trazendo para mim o pouco de paz que o verde entrega de bom grado.

Mas não posso, mesmo que precise.

Então resta observar o céu da minha janela.

Photo by Taylor Van Riper on Unsplash

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