3 descobertas sobre mim em 7 meses de isolamento


Eu achei que 2020 seria o melhor ano da minha vida. Pode rir, eu também o faria no seu lugar.

Quando o ano começou, eu fiz uma viagem super divertida, conheci lugares incríveis com meu namorado incrível (e não digo isso com a ironia de Kean Grassi em Perdidamente — tá aí uma referência que ninguém vai entender). Comecei o ano com um estágio incrível e a esperança de ser contratada em algum lugar antes de me formar em dezembro. Em janeiro, achei que esse seria o ano que eu encontraria uma agente literária.

Não vou ser pessimista e dizer que deu tudo errado, mas foi quase tudo. Não perdi meu estágio, felizmente, mas perdi totalmente a esperança de encontrar um emprego “de verdade” até dezembro por causa da pandemia. Minha formatura foi adiada para (se nada mais der errado) 2021 — um grande tapa na cara para mim.

Sobre a agente literária? Quando duas agências abriram seleção de originais em agosto, achei que seria minha grande chance, que pelo menos isso daria certo. Alguém ia gostar do meu manuscrito. Alguém tinha que gostar. O manuscrito se encaixava em todos os itens de preferência de pelo menos uma das agências. Eu não podia ser ruim assim, né? Mas descobri que podia sim.

Foram longas semanas até eu tomar coragem para abrir o Word outra vez. Continuei produzindo conteúdo para o , onde falo sobre livros. Gastei uma boa grana em livros e cursos de escrita; participei da mentoria incrível da Nina Bichara, recomendo! Mas nada disso me fez recuperar aquela esperança com a qual comecei o ano.

Considerei desistir de escrever e focar na minha outra carreira — de comunicadora ou concurseira. A maré de azar ainda não parece perto de terminar. Minha ansiedade está tentando me matar enquanto eu durmo e a depressão está gritando no baú em que a escondi; sei que ela não vai parar até conseguir ser libertada no meu cérebro.

Eu só quero que a pandemia acabe. Por mais que tenha me adaptado bem ao isolamento e tudo. Estou cansada de achar que colocar a cara para fora do apartamento vai me matar, como se o coronavírus fosse ar tóxico ou algo assim. Quero poder sentir o vento na cara quando estiver na rua.

Com tudo isso, porém, aprendi três coisas muito importantes sobre mim:

1. Eu sou teimosa.

Já levei muitos muitos muitos tombos na vida. Tenho várias cicatrizes que provam isso. Já fui rejeitada em vários lugares, já passei por situações onde não me consideraram boa o suficiente apenas por ser mulher, já fui em vários médicos que mal tomavam tempo perguntando qual o problema e já diziam que a solução era emagrecer. Não seria isso que me derrubaria, né?

2. Eu sou muito mais forte do que penso.

Essa não tem muitos detalhes, é isto. Eu achei que no segundo mês de isolamento já estaria muito mal de saúde mental, mas estou aqui, surpreendentemente bem na medida do possível.

3. Eu preciso aceitar as coisas que não estão no meu controle.

Eu sou controladora. Gosto de me planejar e que as coisas saiam como devem sair, como o esperado. Em 2018 fiz um planejamento de 5 anos, um planejamento anual, comecei a usar planners e a agenda do celular. Me tornei a louca do planejamento. Hoje tenho amigas (que considero muito mais organizadas que eu) me pedindo dicas de planejamento, organização e essas coisas.

Por isso, no início da pandemia tive muita dificuldade em aceitar abrir mão do controle das coisas. Aprendi do jeito difícil a aceitar o que não posso mudar. Ainda que eu continue achando que posso mudar muitas coisas que outras pessoas considerariam impossíveis, estou chegando lá. Já aceitei que não tenho data de formatura, por exemplo. Para mim (que peguei o todos os créditos que podia desde o segundo semestre da faculdade, fiz várias atividades extracurriculares e cursos para conseguir os créditos necessários para me formar em quatro anos) isso foi um avanço enorme.

Não vou mentir e dizer que a pandemia está sendo fácil e que essas descobertas foram feitas com a maior alegria do mundo. Mas são descobertas. São coisas que meu cérebro fez sozinho, olha só.

Elas dificultam a libertação da minha depressão de seu baú. Dificultam que a ansiedade me faça entrar em crise com tanta frequência. Me ajudam a me manter sã na pandemia.

Hoje completei exatos 7 meses de isolamento. Passei 4 meses desse tempo na casa dos meus pais e o restante sozinha em casa. Cheguei à conclusão que se não perdi a cabeça esse ano, não perco mais. Sou capaz de qualquer coisa — com sofrimento, teimosia, desespero, caos, força e várias tentativas de controlar tudo que puder, mas sou.

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