Sobre descobrir que eu não amava livros
Eu sempre fui uma garota muito conectada à música e aos livros. Minhas músicas preferidas eram aquelas que eu conseguia ver claramente sendo encenadas. Meus livros preferidos eram aqueles que faziam meu coração acelerar, minha barriga se contorcer e não me deixavam dormir até saber o que acontecia em seguida. Não foi difícil me apaixonar também por filmes e séries, mas eu ainda preferia as coisas mais subjetivas, que deixavam mais espaço para a minha imaginação visual.
Em determinado momento da minha infância, sinto que parei de viver no mundo real e passei a viver apenas nos mundos de ficção com os quais me envolvia. Reduzi bastante meu número de amigos e passei a ler cada vez mais livros, consumir mais músicas, filmes e séries. Minhas interações com meus amigos eram praticamente todas através de histórias — nos reuníamos para assistir filmes, eles liam meus livros escritos nas aulas, conversávamos sobre músicas, filmes e livros… Um loop infinito.
Até hoje histórias — escritas, planejadas, gravadas — são a minha forma de me comunicar com o mundo. Sou uma negação falando qualquer coisa, demoro um certo tempo para estruturar meus pensamentos e falar é rápido demais, não dá tempo de se planejar. Eu esqueço fatos, detalhes, a ordem das coisas e a minha fala vira uma bagunça (admiro quem tenta me entender).
Desde criança sonho em ser escritora, mas sempre achei que era porque amava escrever. Há pouco tempo percebi que, na verdade, não gosto tanto assim do processo de escrever; é um meio para um fim. E o que eu gosto mesmo é esse tal fim, que é o começo e o meio também: contar histórias.
Sou apaixonada por histórias em todas as suas formas. Não existe um sentimento de realização maior do que encontrar uma história bem contada ou ser a realizadora disso. E histórias são arte, em essência. Deve ser por isso que acho Machado de Assis brilhante e me apaixonei por Frankenstein, as músicas da Taylor Swift, Orgulho e Preconceito, Os sofrimentos do jovem Werther, Julie and the Phantoms, as músicas do Harry Styles, One Day at a Time, Insígnias, The Man in the High Castle e tantas outras obras. Porque, independente do formato, são histórias contadas de forma brilhante por verdadeiros artistas.

Eu descobri muito tarde que não gostava de livros, mas de histórias. Eu também gosto de livros, mas o que me leva a eles são as suas narrativas, para onde eles podem me levar. Perceber isso foi libertador; me permitiu consumir histórias em outros formatos que não fossem livros. Aprendi que não preciso ter uma meta de livros lidos de 100 livros no ano — e isso nem seria possível na minha rotina — , porque essa não é minha paixão principal. É claro que eu amo livros, desde o cheiro até a diagramação e todo o processo artístico do design. mas aprendi que isso não é o mais importante para mim.
Ainda sonho em ter uma estante cheia e, quem sabe, uma biblioteca pessoal, mas sei que isso, sozinho, não me faria feliz. Eu gosto de viver nas histórias, pensar nelas, saborear, digerir, sofrer e tudo mais. Esse processo, para mim, é sobre a paixão, a dor e a felicidade, o brilhantismo nas metáforas, as brincadeiras com palavras, ângulos e pontos de vista.
Quero finalizar o texto com um incentivo: consuma histórias em formatos diferentes. Não precisa ler menos, nem nada, mas os formatos diferentes podem te dar outras perspectivas e melhorar sua experiência com os próprios livros. Além disso, pode ser que você descubra uma nova paixão.
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